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terça-feira, 7 de junho de 2011

Relato Aventura Canyon Fortaleza - Serra Geral - RS e SC - 01, 02 de Maio 2009 - Brasil




Canyon Fortaleza - Serra Geral - RS e SC - 01, 02 de Maio 2009 - Brasil


Era um daqueles dias comumente frios de maio, véspera de um feriado, todos com uma grande vontade de aproveitar a sexta-feira e o final de semana que se aproximavam, porém ninguém tinha nenhuma idéia, somente a vontade de partir. Em meio a tarde cinza e tediante, surge então um pequeno diálogo com dois amigos, Bruno e Mateus, que também estavam trabalhando e pensando como aproveitar aquela ocasião :

- Brunão ! O que tu acha de uma aventura esse feriado ?
- Tô dentro, estava mesmo pensando, mas pra onde ?
- Pensei nos Canyons cara, o que tu acha? partiu ?
- Poxa, Partiu mesmo vou falar com o "Bolhão"!

Depois de uma conversa com Mateus, o Bolhão, o mesmo disse que queria muito, mas não poderia nos acompanhar, então decidimos que íamos do mesmo jeito.
Na mesma noite organizamos algumas coisas, não tínhamos muita informação, e nem de longe um plano, pois nenhum de nós tinha se quer pisado naqueles canyons antes. Buscamos algumas informações por meio de mapas antigos, e decidimos ir pra o Canyon Fortaleza, pois era o
mais "roots", sem estrutura alguma e o que mais interessava nosso instinto aventureiro, calculamos apenas a kilometragem, e o resto era consequência.

Como iríamos partir de manhã bem cedo até Cambará, e ainda tínhamos que organizar as nossas mochilas, resolvi nem voltar para casa aquela noite, e fiquei ali na casa do Bruno até de manhã cedo, além de que a sua casa era pouco mais de 2 quadras da rodoviária. Uma noite bem fria ia se apresentando, enquanto ao som de Bob Dylan, íamos organizando as mochilas com equipamentos, barraca, casacos e alguns mantimentos.

Ainda nem tinham se apresentado os primeiros raios de sol, e já estávamos com as mochilas nas costas em direção a rodoviária, o frio era intenso, porém o sol estava presente, e a previsão era que o tempo se manteria assim o final de semana todo.
Depois de diveras rodoviárias, conversas e pensamentos, estávamos agora em direção ao destino final: Cambará do Sul, muitos campos, areas verdes, e diversas " florestas" de pinus predominavam na paisagem e sumiam no horizonte, dando lugar também ao vento gelado que
entrava por todas as frestas da janela do ônibus que parecia já estar habituado aquele trajeto.
Chegando em Cambará do Sul, não sei se pelo feriado, mas parecia que desde que a última pessoa havia por ali transitado passara mais de 10 anos. O mercadinho encontrava-se aberto e foi nossa última parada para comprar algumas especiarias, como o tempero para o arroz que ia servir de janta à noite, alguns doces de leite e uma garrafa de vinho, claro.
Partimos caminhando pela estrada de terra que dava acesso ao Canyon Fortaleza, observei que toda a mata araucária que existia na região acabou dando lugar a Plantações gigantescas de Pinus, imensa tristeza.

Com a caminhada, o peso das mochilas e sol presente, cada 2km ou meia hora, tirávamos um pouco dos casacos que estávamos usando, um gole de água e seguiamos pela estrada de pedras, terra e muitos buracos. Um dos carros do Ibama passou pela estrada e nos indicou um local de
acampamento, já que dentro do park dos canyons é proibido acampar.
Passarinhos verdes tropicais, calmos e nada assustados com nossa presença cantavam sem parar, mas no fundo queriam dividir nosso almoço, que a essa hora do dia, com o sol já tangenciando nossas cabeças, era mais que merecido, este : uma porção de arroz com tempero
da região, esquentada numa panelinha pequena meio sinistra. O local do almoço: uma encruzilhada com mato em volta dela, formando um espécie de rótula, e nós bem ali, no meio dela.
Em meio ao silêncio ouvíamos um barulho e não sabíamos de onde vinha, avistamos de longe uma barraquinha bem no meio do nada, e nela um nativo vendendo o seu mel, ouvindo uma rádio qualquer no seu radinho a pilha, nos ofereceu com total gentileza a experimentar o mel selvagem da região, que com certeza foi uma experiência sem igual.

Depois de 17 km o tempo fechou do nada, a famosa viração(ar quente do litoral encontra-se com o ar frio de cima do canyons e condensa formando uma densa neblina). A esse ponto já estavámos quase na entrada do parque, porém tivemos que voltar até o acampamento base, local
cedido por uma fazenda, do lado da estrada, onde tinha um riacho e uma ponte de madeira, que aquela hora do dia já recebia o movimento dos seus últimos carros, retornando dos canyons devido ao nevoeiro, e mesmo com extrema umidade, conseguimos iniciar uma pequena fogueira
para aquecer nossa janta, que me recordo agora ser um pouco de massa ao molho branco, e um pouco de polenta assada na pedra quente.

Eram só 20h da noite, a escuridão era grande e me peguei deitado dentro da barraca, pois já estava frio do lado de fora e a noite seria ainda mais gelada. Todo tipo de combustível para a fogueira já se encontrava ensopado com a umidade do nevoeiro, não tínhamos mais energia para encontrar alguma coisa que se encontrava seco para ir alimentando a fogueira.
No meio dessa noite a respiração condensava no teto da barraca gelada, onde criava gotas de água congelada por todo lado, que caiam no nosso corpo, a medida que iam descongelando, a temperatura externa era deaproximadamente -4ºC.

Os rins começaram a sentir o frio intenso e clamavam por atenção, o cobertor de lã já não dava conta, e o único isolante térmico foi cortado para poder servir a nós dois. Dormir naquele estágio da noite já era impossível, e o vinho já havia acabado, sai da barraca por uns instantes, dei uma corrida até o riacho para me aquecer e o sangue circular um pouco. Alguns guaxinins passeavam perto do riacho, possivelmente rindo da nossa situação.


# Dia 2

Eram 5 da manhã, quando sem conseguir dormir, sai da barraca novamente, fui no riacho, e as poças de agua se encontravam congeladas, era possível quebrar a camada de gelo que as cobria,
peguei um pouco de água bem gelada, esquentei dentro da panela mesmo, para aí sim saborear um Chimarrão.
Sentado numa pedra, esperando os primeiros raio de sol, olho para o céu e fiquei sem palavras: nunca tinha visto tantas estrelas na minha vida, o céu naquele momento tinha virado um mar, de tantas estrelas brilhantes, que cintilavam mais fortes que as luzes das aeronaves que ali sobrevoavam, pensei que talvez um dia também sobrevoasse aquele lugar, e iria pensar se lá em baixo estavam acampando loucos como nós, quem sabe passando frio, quem sabe fazendo uma fogueira, ou até tomando um banho de rio gelado.
O nevoeiro ia se dissipando, o sol nascia do outro lado do rio, atrás da plantação de pinus no horizonte, e tudo que se via era a umidade da noite se aquecendo e subindo, uma névoa bem baixa que ia de contraste aos raios de sol.
Era bem cedo, desmontamos o acampamento, barraca na mochila, e seguimos mais 15 km, em meio a mata agora sim selvagem, rios sem intervenção dos humanóides, águas cristalinas... silêncio, paz, e muita calma. O dia ia amanhecendo e os primeiros movimentos de
veículos na estrada era observado.

Passamos pela guarita na entrada do parque, assinamos a lista com nossos nomes e rg, e partimos para o vértice, era perto do meio dia quando chegamos a beira do canyon Fortaleza. Uma conquista, depois de tantos km, de uma noite gelada, 1000 metros acima do mar, uma
panôramica incrível do litoral de uma lado, lagoas e a cidade de Torres bem ao fundo... Lugar Mágico, momento único. Fico pensando, embora sem comparar, mas temos no estado uma grande maravilha mundial, que muitos não conhecem e não valorizam, posso dizer até que é mais
lindo que qualquer Grand Canyon, e não sei se é bom ou ruim não ser tão explorado turisticamente, pois o potencial é enorme.

Fomos explorando toda sua borda, e naquele instante as pernas já fraquejavam um pouco e a fome era grande, porém as únicas fontes de alimento que restavam eram 2 barras de cereais sabor limão, que logo foram consumidas na borda do canyon acima da cachoeira do Tigre Preto.
O sol era intenso, e nós lembramos que ainda tínhamos que voltar os 30km, e torcer para chegar a tempo de pegar o único ônibus de volta. O cansaço era grande, a mochila parecia que estava pesando quase o triplo. Alguns km a seguir e um ônibus, da melhor idade nos cedeu
carona até a entrada do parque onde iam prosseguir para a trilha da pedra do segredo. decidimos deixar a trilha para a próxima, o tempo era limitado, e não aguentaríamos voltar.
Caminhamos mais um pouco pela estrada, pedindo carona a baixo do sol quente, vários carros e uma camionete lotada, de um cara muito gente boa de curitiba, que também já havia passado por essas "indiadas", parou, disse que estava lotado, mas que se a gente não se importasse
em ir sentado no apoio do bagageiro não teria problema. Não hesitamos, sentados no bagageiro com os pés a alguns centimentros do chão, e íamos avistando tudo aquilo que tínhamos feito na ida, caminhando.
Com sorte chegamos a tempo do último ônibus na rodoviária, divindo espaço entre algumas pinhas que foram entregues em outra rodoviária, por simples favor a um cidadão local, que nos indicou o canyon fortaleza no dia anterior.
A viagem de volta passou por São Francisco de Paula, Tainhas, Canela, Gramado, Nova Petropólis, até seguir pra Caxias, onde chegamos exaustos mas totalmente realizados, o sonho de uma aventura não planejada acabara sendo conquistado, e o final de semana bem vivido,
além de tudo restava ainda o domingo para descansarmos !

"Você está errado se acha que a alegria emana somente das relações
humanas. Está em tudo e em qualquer coisa que possamos experimentar.
Só temos de ter coragem de dar as costas para nosso estilo de vida
habitual e nos comprometer com um modo de vida não convencional."

O que importa pro aventureiro é desbravar o desconhecido, sentir a
imensidão do céu, o brilho das estrelas e o mistério do mar, encontrar
no silêncio da alma, a paz e a presença do Criador, conhecer coisas,
lugares e pessoas e ultrapassar seus limites


*Não tinhamos maquina fotográfica, mas segue algumas fotos de celular
e em outra ocasião mais recente fotos de uma camera qualquer.


















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